sábado, 11 de novembro de 2017

Sangue Negro


Há um ano, no dia 19 de Novembro de 2016, a Polícia Militar invadiu a Cidade de Deus e executou 7 moradores da Comunidade, suspeitos de ligação com o tráfico de drogas. Na foto, a mãe de Enzo, de 17 anos, único menor do grupo, chora sobre o rosto de seu filho. Até quando permanecerá esta carnificina em que jovens negros são os maiores prejudicados? Inocentes, policiais e traficantes voltaram a morrer em grande quantidades devido a embates violentos: são 61 mil mortos no país por arma de fogo.

A lágrima borrada da namorada de Enzo representa milhares de vidas perdidas que entram para as estatísticas

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Vidas Secas


Dois meses sem um pingo d’água do céu. O principal rio da região, conhecido pelas cheias, virou um esqueleto de pedras e tubulações. Colheitas de café completamente destruídas. Dezenas de animais não resistiram à falta de umidade e, desidratados, faleceram. Este foi o cenário em que encontramos Cachoeiro de Itapemirim, terra natal de Roberto Carlos e Rubem Braga, em Fevereiro de 2015.

“Saudades do tempo em que era difícil encostar o pé no fundo do rio”, relembra o plantador de tomates Antônio Bonin, desolado. “Nadei muito por aqui na minha infância”, completa. Hoje esta imagem existe apenas como uma longínqua lembrança para Antônio e, para nós, difícil de acreditar. O lugar virou um deserto, como que trazido das páginas de Graciliano Ramos.


O pecuarista João Augusto Sturião, com seu chapéu de cowboy, calça jeans e botas, exibia a expressão de um homem corajoso. Parecia um desses personagens de faroeste, como em Era uma Vez no Oeste ou Bravura Indômita. Mas estava, infelizmente, de mãos atadas. “O que eu vou fazer agora? Vinte gados meus morreram, enquanto os outros estão à beira da morte. Tão fracos que quase não se agüentam em pé”. Ele faz de tudo para que o filho, formado em Direito, siga outros passos como profissão.

O presidente do Sindicato Rural da cidade, Wesley Mendes, aponta a poluição, o desmatamento e a urbanização das encostas, as principais causas da seca, por destruir a vegetação e os mananciais. "Quanto mais o ser humano realiza queimadas e polui o meio ambiente, a concentração de carbono na atmosfera e  a temperatura terrestre aumentam, tornando as estações cada vez mais definidas".

Há quem tenha buscado ajuda na Fé. O agricultor Roberto Leal organizou uma novena para pedir água dos céus. Conseguiu reunir mais de 60 Peregrinos, que caminhavam diariamente por 2km, da Igreja até o alto de um morro no Córrego dos Monos, onde se encontrava uma cruz. Coincidência ou não, um dia após chegarmos à cidade, começou a chuviscar.


Em 3 dias, choveu mais de 30 milímetros, o que amenizou perdas ainda mais graves. A matéria não mais seria sobre a seca, mas sobre seu sim. Até quando nosso povo terá de apelar aos santos, enquanto politicos fingem não enxergar problemas tão claros como a chuva?


Julio Maria Heitor, empresário, aluga caminhões-pipa e ganha até R$ 28 mil por mês do município de Guaçuí.

domingo, 5 de novembro de 2017

Educação que vale ouro

O Ginásio Experimental Olímpico (GEO), localizado em Santa Tereza, no Rio de Janeiro, é considerado uma exceção à educação brasileira. A escola promove, além do ensino de matérias já conhecidas, aulas de esportes olímpicos como atletismo, futebol, natação, tênis de mesa, vôlei, handebol e, até mesmo, xadrez. Em período integral, de 7h30 às 17h.

O diretor, José Edmilson da Silva, salienta que o principal objetivo não é apenas preparar atletas para Olimpíadas, mas contribuir para o crescimento humano dos alunos e, quem sabe, impulsionar carreiras ligadas a essas práticas, como fisioterapia e educação física.

Uma pesquisa feita na universidade de Vrije, na Holanda, afirmou que o esporte ajuda na oxigenação do cérebro, favorece o raciocínio e a cordenação motora. Países como EUA, Canadá e Cuba já seguem este modelo há 30 anos. No Brasil, é um privilégio de pouquíssimos, e por isso buscamos retratar estes alunos/atletas com se fossem “super heróis” dos esportes.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Deus e o Diabo na Terra do Sol


O Sol começava a se esconder por detrás das montanhas, e Adelson Guedes, candidato a vereador, discursava em frente à Rocinha junto de seu inseparável alto falante. "Força para o povo nordestino, o pilar desta comunidade! Vote, Adelson Guedes!”. Sobre sua silhueta, sua marca registrada: um chapéu que nos transporta diretamente para telas de Gláuber e sertões de Guimarães.

De certa forma,  a Rocinha pode, sim, ser considerada um pedacinho de lá. Muitos imigrantes vieram do Nordeste desde a década de 70, em busca de melhores oportunidades de trabalho, e correspondem à maioria da população. Atualmente, há na Rocinha 70 mil moradores registrados, segundo dados do Censo IBGE 2010 e, provavelmente, o dobro de habitantes. Em busca de um lugar na Câmara dos Vereadores, além de Adelson (3.789 votos), estavam Waldemar do Gás (5.324), Zé da Peixaria (2.652), William da Rocinha (2.107) e Valério (435). Nenhum deles conseguiu votos suficientes para obter o cargo.

A Favela, que seria um território construído de maneira informal, foi completamente esquecida pelo Estado. Sem saneamento básico, escolas de qualidade, hospitais, ou seja, sem o cuidado necessário. A crise política, econômica, social e ética do país, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, reflete na situação crítica destes locais. O modus operandi do governo não é inteligente nem eficaz.

O estado investe em estratégias de “extermínio” aos chefes do tráfico, como se violência fosse solução para problemas estruturais e sociais. Quando políticos se darão conta de que barbárie não leva a lugar algum? Esta guerra mata inocentes, policiais e traficantes, como se a vida não tivesse mais valor. No ano de 2016, o número de mortes por armas de fogo em nosso país ultrapassou a marca de 61 mil por ano. O Rio de Janeiro está entre os três primeiros desta lista.

A UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), iniciada em 2008, não compreendia apenas a entrada de segurança nas comunidades, mas também educação, saúde, saneamento básico, cursos profissionalizantes. O projeto, infelizmente, foi por água abaixo. A solução deveria passar por investimentos a longo prazo, legalização das drogas e combate ao tráfico de armas. É preciso haver representantes destas Comunidades na bancada política. Eles também têm direito de um lugar ao Sol.



Letreiros eletrônicos com o nome de Adelson, além de um carro ultra personalizado, se destacavam pelos becos. Sinal de que o "cabra da peste" estava bem antenado às novas tecnologias.


Waldemar do Gás



Zé da Peixaria


William da Rocinha