sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Vidas Secas


Dois meses sem um pingo d’água do céu. O principal rio da região, conhecido pelas cheias, virou um esqueleto de pedras e tubulações. Colheitas de café completamente destruídas. Dezenas de animais não resistiram à falta de umidade e, desidratados, faleceram. Este foi o cenário em que encontramos Cachoeiro de Itapemirim, terra natal de Roberto Carlos e Rubem Braga, em Fevereiro de 2015.

“Saudades do tempo em que era difícil encostar o pé no fundo do rio”, relembra o plantador de tomates Antônio Bonin, desolado. “Nadei muito por aqui na minha infância”, completa. Hoje esta imagem existe apenas como uma longínqua lembrança para Antônio e, para nós, difícil de acreditar. O lugar virou um deserto, como que trazido das páginas de Graciliano Ramos.


O pecuarista João Augusto Sturião, com seu chapéu de cowboy, calça jeans e botas, exibia a expressão de um homem corajoso. Parecia um desses personagens de faroeste, como em Era uma Vez no Oeste ou Bravura Indômita. Mas estava, infelizmente, de mãos atadas. “O que eu vou fazer agora? Vinte gados meus morreram, enquanto os outros estão à beira da morte. Tão fracos que quase não se agüentam em pé”. Ele faz de tudo para que o filho, formado em Direito, siga outros passos como profissão.

O presidente do Sindicato Rural da cidade, Wesley Mendes, aponta a poluição, o desmatamento e a urbanização das encostas, as principais causas da seca, por destruir a vegetação e os mananciais. "Quanto mais o ser humano realiza queimadas e polui o meio ambiente, a concentração de carbono na atmosfera e  a temperatura terrestre aumentam, tornando as estações cada vez mais definidas".

Há quem tenha buscado ajuda na Fé. O agricultor Roberto Leal organizou uma novena para pedir água dos céus. Conseguiu reunir mais de 60 Peregrinos, que caminhavam diariamente por 2km, da Igreja até o alto de um morro no Córrego dos Monos, onde se encontrava uma cruz. Coincidência ou não, um dia após chegarmos à cidade, começou a chuviscar.


Em 3 dias, choveu mais de 30 milímetros, o que amenizou perdas ainda mais graves. A matéria não mais seria sobre a seca, mas sobre seu sim. Até quando nosso povo terá de apelar aos santos, enquanto politicos fingem não enxergar problemas tão claros como a chuva?


Julio Maria Heitor, empresário, aluga caminhões-pipa e ganha até R$ 28 mil por mês do município de Guaçuí.

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