terça-feira, 31 de outubro de 2017

Deus e o Diabo na Terra do Sol


O Sol começava a se esconder por detrás das montanhas, e Adelson Guedes, candidato a vereador, discursava em frente à Rocinha junto de seu inseparável alto falante. "Força para o povo nordestino, o pilar desta comunidade! Vote, Adelson Guedes!”. Sobre sua silhueta, sua marca registrada: um chapéu que nos transporta diretamente para telas de Gláuber e sertões de Guimarães.

De certa forma,  a Rocinha pode, sim, ser considerada um pedacinho de lá. Muitos imigrantes vieram do Nordeste desde a década de 70, em busca de melhores oportunidades de trabalho, e correspondem à maioria da população. Atualmente, há na Rocinha 70 mil moradores registrados, segundo dados do Censo IBGE 2010 e, provavelmente, o dobro de habitantes. Em busca de um lugar na Câmara dos Vereadores, além de Adelson (3.789 votos), estavam Waldemar do Gás (5.324), Zé da Peixaria (2.652), William da Rocinha (2.107) e Valério (435). Nenhum deles conseguiu votos suficientes para obter o cargo.

A Favela, que seria um território construído de maneira informal, foi completamente esquecida pelo Estado. Sem saneamento básico, escolas de qualidade, hospitais, ou seja, sem o cuidado necessário. A crise política, econômica, social e ética do país, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, reflete na situação crítica destes locais. O modus operandi do governo não é inteligente nem eficaz.

O estado investe em estratégias de “extermínio” aos chefes do tráfico, como se violência fosse solução para problemas estruturais e sociais. Quando políticos se darão conta de que barbárie não leva a lugar algum? Esta guerra mata inocentes, policiais e traficantes, como se a vida não tivesse mais valor. No ano de 2016, o número de mortes por armas de fogo em nosso país ultrapassou a marca de 61 mil por ano. O Rio de Janeiro está entre os três primeiros desta lista.

A UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), iniciada em 2008, não compreendia apenas a entrada de segurança nas comunidades, mas também educação, saúde, saneamento básico, cursos profissionalizantes. O projeto, infelizmente, foi por água abaixo. A solução deveria passar por investimentos a longo prazo, legalização das drogas e combate ao tráfico de armas. É preciso haver representantes destas Comunidades na bancada política. Eles também têm direito de um lugar ao Sol.



Letreiros eletrônicos com o nome de Adelson, além de um carro ultra personalizado, se destacavam pelos becos. Sinal de que o "cabra da peste" estava bem antenado às novas tecnologias.


Waldemar do Gás



Zé da Peixaria


William da Rocinha


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